A Metade Sul do Estado do Rio Grande do Sul apresentava inúmeras vantagens competitivas que colaboraram para a escolha da VCP: a rede de transportes multimodal, que envolvia a confluência de quatro grandes rodovias (BR 471, BR 293, BR 392 e BR 116), a proximidade com o Porto de Rio Grande, segundo maior porto do Brasil em movimentação de cargas (2010), com condições de navegabilidade que proporcionavam o envio de cargas a baixo custo a qualquer lugar do globo terrestre, uma rede ferroviária, administrada pela América Latina Logística (ALL), passando por alguns dos mais importantes municípios da região, como Bagé, Pelotas e Rio Grande, terminando em frente ao Porto de Rio Grande. A região também apresentava condições climáticas favoráveis para o cultivo do eucalipto e disponibilidade de terras a preços acessíveis;
Entre 2003 e 2005 a Votorantim investiu R$ 310 milhões em atividades ligadas ao Projeto, especialmente na compra de áreas. Foram gerados 3,4 mil empregos diretos e indiretos com a implantação da sua base florestal.
No dia 04 de Novembro de 2005 em uma cerimônia com muita pompa, no Palácio Piratini, em Porto Alegre, foi anunciado o início do processo de licenciamento para a implantação da unidade fabril. Foi assinado convênio de compartilhamento do Valor Adicionado (VA) para o retorno do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Metade do valor recolhido seria do município onde a fábrica estivesse localizada, e a outra metade seria dividia entre 26 municípios da região. A ideia era iniciar a produção em 2011.
Tabela 1 – Cotação do Dólar em relação ao Real.
2) Queda na demanda de celulose. A crise global de 2008 fez com que o PIB dos principais países da economia global fosse afetado, entre eles os maiores consumidores de celulose e papel, como EUA, Japão e os países da União Européia. Lei da oferta x demanda. Menor demanda, menor valor de venda, menor receita da companhia.
Tabela 2 – Oscilação do valor da celulose (US$/T (Dólares por Tonelada))
3) Fusão entre VCP e Aracruz. No dia 01 de setembro de 2009 foi apresentada, oficialmente, a nova empresa do ramo de celulose e papel. Denominada Fibria, foi resultante da incorporação da Aracruz pela VCP. Ao criar uma nova empresa, modifica-se toda estrutura, a VCP deixa de existir. Há mudanças significativas na Diretoria e Conselho de Administração da Fibria, agora com maior participação do BNDESPar, além de uma nova disposição dos ativos florestais, fábricas e projetos.
Futuro do Projeto Losango
Em dezembro de 2006 foram concedidas as licenças ambientais para a construção em Três Lagoas/MS de duas fábricas integradas, um projeto da VCP (posteriormente Fibria) e da International Paper (proprietária da marca Chamex, que garante a compra de 160 mil toneladas por ano da celulose produzida pela VCP nesta planta fabril). Depois de duas décadas, saia do papel o Projeto Três Lagoas. No ano de 2009 a chilena Companhia Manufatureira de Papéis e Papelões (CMPC) fechou acordo com a Fibria para a compra da unidade da Aracruz em Guaíba/RS. A Fibria também anunciou a venda do seu último ativo de papel, localizado em Piracicaba/SP. A transação demonstra que, cada vez mais, a companhia quer focar o seu negócio em celulose de mercado, negociando suas fatias em plantas focadas na produção de papel, como já havia feito com na Conpacel (Consórcio Paulista de Papel e Celulose) e na distribuidora de Papel KSR.
Decisões sobre questões relativas a um investimento da magnitude do Projeto Losango não são tomadas por apenas um motivo. Cada passo a ser tomado em vultuosos negócios comandados por grandes corporações são acompanhados de análises, estudos e projetos. Além disso, o setor de celulose e papel é um segmento industrial extremamente volátil aos movimentos da economia global, o que só aumenta a cautela necessária antes de cada nova decisão.
Não acredito que a demora na liberação de licenças ambientais pode ter contribuído, de forma minoritária, para o adiamento do projeto. A quantidade de licenças necessárias, pelo tamanho do empreendimento e pela variedade de áreas da empresa, com as mais diversas peculiaridades, fez com que houvesse uma demora, natural, na liberação de licenças. Entretanto, é fundamental ressaltar que a empresa obteve todas as licenças que esperava receber, tendo liberadas para plantio a totalidade da área pleiteada.
A desconfiança de parte do povo gaúcho, e a contrariedade de movimentos organizados, como MST e Via Campesina não colaboraram para o adiamento do projeto. Nos anos seguintes esses movimentos perderam consistência e diminuíram drasticamente de tamanho, o que leva a crer que, caso outros fatores não tivessem interferido no Projeto Losango, não seria este um empecilho ao segmento do mesmo.
Também é importante salientar que, depois de investir valores substanciais no Projeto Losango, a Fibria, resultante da incorporação da Aracruz pela VCP, não irá simplesmente abandonar os investimentos realizados. Seja a retomada do projeto, a utilização do ativo florestal para outros fins, ou a venda deste ativo para outra companhia; o certo é que alguma coisa será feita e, novidades virão, movimentando novamente o setor florestal da região.
Marcelo Nogueira é graduado em Engenharia pela Universidade Federal de Pelotas e acadêmico de Administração pela mesma Universidade. Participa do Blog Caminhos da Zona Sul. Para ler mais da seção “Opinião”, clique aqui.
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