Uma área de aproximadamente 90 mil hectares de eucalipto, acácia e pinus em ponto de corte se estende pela Metade Sul do Estado. São zonas de produção independentes, fora do eixo compreendido pelo extinto Projeto Losango, cujos ativos foram vendidos em 2012 pela Fibria para a CMPC Celulose Riograndense.
Motivados pelas oportunidades da época, quando a Votorantim Celulose (hoje Fibria) planejava um investimento bilionário na região, centenas de produtores locais investiram no cultivo de florestas, na esperança de bons negócios com a empresa. Por uma questão estratégica, no entanto, a companhia desistiu de implantar uma fábrica de celulose na região, levando incertezas a quem apostou no cultivo de florestas. Agora, um projeto no valor de US$ 220 milhões traz novas esperanças aos produtores. A reportagem é do Jornal do Comércio, de Porto Alegre, em matéria assinada pelo repórter Mateus Frizzo.
A empresa mineira Finagro, com apoio de um fundo internacional de investimento, escolheu o município de Pinheiro Machado para a construção de uma fábrica de pellets. A estimativa é de que produza 600 mil toneladas ao ano do biocombustível – grânulos elaborados com resíduos de madeira. A unidade pretende ainda gerar 50 mil watts de energia elétrica por ano e, em um estágio futuro, implementar a produção de etanol celulósico à base de casca de arroz. Para sair do papel, o projeto aguarda ainda a licença ambiental.
De acordo com o presidente da Finagro, Afonso Bertucci, a primeira etapa vai consumir em torno de 35 mil hectares de florestas. Pequenos e médios produtores da região serão os responsáveis pelo fornecimento da matéria-prima. O empresário salientou a grande disponibilidade das áreas florestais da região como o propulsor do projeto.
O secretário municipal de Agropecuária de Pinheiro Machado, Adelino dos Santos, aponta que a decisão foi tomada também pela vantagem logística do município em relação a outros da região. “É uma escolha técnica pelo custo-benefício”, disse. O município de 13 mil habitantes fica próximo à ferrovia que dá acesso ao porto do Rio Grande, de onde partirá a produção, com destino à Europa – Alemanha em especial. “A energia do pellet é mais barata, e os governos europeus vêm forçando as empresas a substituir carvão mineral por fontes renováveis”, ressalta Bertucci.
Responsável pela elaboração e execução do projeto, a Finagro comunicou à administração do município que o fundo internacional deu aval para o aporte financeiro e aguarda apenas as concessões de licenciamento ambiental e a definição de um terminal no porto gaúcho. A fábrica ocuparia uma área localizada a 8 quilômetros do município, próxima a uma floresta de 30 mil hectares pertencente à CMPC, segundo informações da prefeitura de Pinheiro Machado. A Finagro, no entanto, negou qualquer negociação com a empresa, responsável por outros 100 mil hectares de área de plantio na região.
Técnicos trabalham na formulação do estudo de impacto ambiental que será encaminhado à Fepam. A resposta está prevista para maio do ano que vem e, em caso de sinal positivo, os trabalhos começam já no início do segundo semestre. O empreendimento geraria 1,5 mil empregos temporários para trabalhadores da construção civil e, posteriormente, 200 empregos diretos e outros 600 indiretos. “Será a galinha dos ovos de ouro da cidade”, destaca Santos.
Com o início das operações previsto para 2017, a dúvida é a manutenção da produção atual, boa parte já em ponto de corte. “É uma incógnita”, diz o presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais da cidade, Mateus Garcia. “Está tudo parado. Sofremos há mais de três anos com a inatividade. A plantação está pronta, não está havendo corte e, consequentemente, não está gerando recursos para o município.”
Fonte: Mateus Frizzo – Jornal do Comércio
3 comments