No próximo mês será inaugurado em Pelotas o primeiro shopping center da região. Como consumidor estou entusiasmado com a ideia, fico satisfeito ao ver que lá estarão algumas marcas que até então não possuíam operação na cidade. Não tenho dúvidas de que o Shopping Pelotas será um sucesso. Sinto falta desse tipo de espaço por aqui e pretendo visitá-lo com frequência. No entanto, gostaria de abordar neste espaço alguns tópicos que tem me chamado a atenção nas últimas semanas.Ouvi recentemente alguns comentários relacionando a presença de lojas voltadas para as classes A-B no shopping com alguns índices ruins da cidade nas áreas socioeconômicas. Estes comentários questionavam se haveria público em Pelotas, e no Shopping Pelotas, que sustentasse operações destes segmentos.
De fato, alguns indicadores da cidade são ruins. Pelotas tem o menor PIB per capita entre as 10 principais economias do Estado (PIB per capita equivalente a cerca de 1/3 do apresentado pela vizinha Rio Grande, por exemplo). Também é considerável a diferença de quantidade de habitantes entre as classes D/E e A/B (Porto Alegre tem 6 vezesmais pessoas nas classes A-B do que Pelotas, mas menos de 2 vezes o número de pessoas nas classes D-E, dados do IPC Marketing 2012). No entanto, é importante observar que isto não implica necessariamente que não haja um atrativo potencial de consumo na cidade. A mesma compilação de dados que citei acima (IPC Marketing 2012) mostra que Pelotas possui 121 mil habitantes nas classes A/B. Sem dúvidas, trata-se de um número relevante, e este contingente de consumidores não pode ser desprezado. Estes dados são reforçados, ainda, pela grande quantidade de pessoas de cidades vizinhas que consomem – e o apelo de um “shopping center” tende a aumentar este movimento – em Pelotas.
Por outro lado, tenho conversado com pessoas que trabalham nas áreas de marketing e consumo para tentar antecipar o futuro cenário das áreas que hoje são ocupadas pelo comércio em Pelotas. Busco responder, entre outros questionamentos, “com o shopping, o que ocorrerá com o centro de Pelotas?”.Uma das dúvidas é se há mercado para mais de uma operação de determinadas lojas de alguns segmentos no município. Em várias cidades de porte semelhante os shopping centers chegaram na mesma época do “boom” das principais redes e franquias. Ou seja, quando algumas dessas empresas se instalaram, foram direto para o primeiro shopping local. Em Pelotas, não. Estão instaladas na região central da cidade e, muitas delas, estarão também no Shopping Pelotas. A questão é se há público para manter também a operação localizada no centro da cidade ou se a parte mais nobre – comercialmente falando – da região (proximidades da Rua Quinze de Novembro) sofrerá um processo que tenho chamado de “Marechalflorianização“, perdendo essas lojas voltadas para um público mais seleto e recebendo empresas do padrão das instaladas nas proximidades das ruas Marechal Floriano e Marechal Deodoro, voltadas para um público com menor renda. Acredito que isso não vá ocorrer, mas considero interessante acompanhar esta possível mudança de perfil dessa região da cidade nos próximos anos.
Por fim, gostaria de comentar uma declaração do prefeito de Pelotas Eduardo Leite. Há algumas semanas ele discursou em evento do Shopping Pelotas e, para minha (positiva) surpresa, disse que “as pessoas gostam destes ambientes (shopping centers) pois eles são como a população gostaria que fossem as cidades, organizadas e limpas”. Parece óbvio, mas ouvir isso de um ocupante de um cargo político, e justamente em um evento organizado pelos empreendimento, me causou uma agradável surpresa. Como disse no início deste artigo estou entusiasmado com a novidade, mas sempre é bom lembrar um dos principais motivos que fazem com que este tipo de negócio tenha tanto apelo em nosso país: o shopping center oferece aquilo que as cidades deveriam entregar – e não o fazem – aos seus habitantes, um espaço de convivência seguro, organizado e limpo.
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