Ao contrário de outros trabalhadores, que ignoravam a desistência de última hora, Quintana estava atento às notícias desde cedo. Segurando o capacete à mão, com o uniforme azul-marinho da empresa, lamentava-se, cabisbaixo:
– Fiquei chateado. Prepararam tudo para receber a Dilma.
Quintana e os colegas queriam entregar a P-55 para a presidente. Parte deles será remanejada para a construção da P-58, mas sabem que não haverá vagas para todos.
– Sou ciente de que uma obra termina, não é para a vida toda, mas há muita indefinição – disse Quintana, pai de uma filha.
O presidente do sindicato dos metalúrgicos, Benito Gonçalves, destacou que a situação é preocupante. Calculou que, dos 24 mil operários do auge do polo naval, sobraram em torno de 19 mil com a conclusão gradual das obras.
No Estaleiro Rio Grande, onde Dilma seria recepcionada, o cenário era de frustração. Às 9h30min, os operários Jefferson Fonseca, 23 anos, e Diego Eleto da Silva, 20 anos, não sabiam do cancelamento.
– Ela não vem? Mas todos nós estamos na expectativa – surpreendeu-se Jefferson.
Comerciantes que se estabeleceram com tendas em frente ao estaleiro também lastimaram a ausência. Vera Lúcia Pavelak, que vende café e sanduíches, desejava, pelo menos, abanar para Dilma.
Funcionários da Petrobras realizaram uma cerimônia informal, de entrega da P-55, mas sem permitir o acesso a jornalistas. Afixada à entrada do estaleiro, a faixa “Bem-vinda, presidenta Dilma” – do jeito que ela gosta, com a flexão feminina do cargo – não teve a quem saudar.
Fonte: Nilson Mariano _ Jornal Zero Hora
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