OPERAÇÃO COMPLEXA MOVIMENTOU A REGIÃO PORTUÁRIA NA CHEGADA DA PLATAFORMA P-32 EM RIO GRANDE

    Embarcação, que tem mais de 40 mil toneladas, chega ao estaleiro para ser totalmente desmantelada – Foto: Divulgação Agência Petrobras

    Da ZH.COM – Bruna Oliveira

    As plataformas marítimas que a Petrobras está desativando e que foram adquiridas em leilão pela Gerdau iniciam um novo momento do polo naval de Rio Grande. As estruturas serão desmontadas no estaleiro da Ecovix para se transformarem na sucata que abastece a siderúrgica de origem gaúcha. A primeira delas, a P-32, atracou na última quinta-feira (14) no RS.

    A unidade ficava na Bacia de Campos, na costa do Rio de Janeiro, e deixou o local no dia 25 de novembro rumo ao Estado. Uma segunda plataforma, a P-33, adquirida em novembro pela Gerdau, deve chegar para o mesmo processo de reciclagem na metade do próximo ano.

    O translado da embarcação foi complexo e envolveu grande operação. Ao chegar a Rio Grande, a plataforma foi recebida por uma empresa especializada em limpeza e segurança para evitar contaminações na entrada no estaleiro. Mais de 50 profissionais estiveram envolvidos desde o reboque e manobras para entrada no canal até a estabilização da estrutura no dique seco.

    O desmantelamento vai ocupar uma estrutura da Ecovix que estava ociosa desde a decadência do polo naval de Rio Grande. O local perdeu protagonismo depois de mudanças na Petrobras após a Lava-Jato e também pela concorrência com a China na fabricação de plataformas marítimas.

    Juntas, as duas plataformas que serão recicladas devem demandar 400 postos de trabalho. Maçariqueiro, ajudante, caldeireiro e operador de andaime são os cargos requisitados para o processo. A “reciclagem verde” faz parte de programa instituído pela estatal para se desfazer de estruturas antigas a partir de uma destinação sustentável das embarcações da petroleira.

    Benito Gonçalves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande, diz que o desmonte movimenta e mantém o estaleiro aberto, mas “deixa a esperança de mais”, porque são poucas as funções envolvidas. O estaleiro Rio Grande tem capacidade para 15 mil trabalhadores.

    — O sindicato comemora, claro, é sempre bem-vindo qualquer trabalho, mas o que ela (a reciclagem) gera de empregos não é muito. Neste momento, lamentamos a divisão que está sendo feita pelo programa de governo que nos deixa de fora — diz o sindicalista, citando a construção de novas estruturas previstas dentro do PAC 3, que erguerá 16 plataformas no Rio de Janeiro.

    Outras oitos plataformas de petróleo da Petrobras estão previstas para ir a leilão. As embarcações serão substituídas por estruturas novas. André Guardin, gerente de metálicos da Gerdau, confirma que a siderúrgica também tem interesse nessas estruturas:

    — A Petrobras tem diversas unidades ainda a leiloar e temos total interesse participar.

    Segundo Guardin, a empresa recicla mais de 11 milhões de toneladas e entende que as plataformas podem ser uma fonte nova de matéria-prima de sucata:

    — A Gerdau é a maior recicladora da América Latina e 70% de tudo do que produz vem da sucata terrosa. A aquisição está alinhada ao nosso plano estratégico de reciclagem. Entendemos que esse programa é uma fonte alternativa para chegar aos nossos objetivos de conseguir matéria-prima, e as plataformas são uma fonte interessante. Quanto mais conseguirmos transformar, melhor.

    A companhia estima que 95% da estrutura das plataformas possa ser aproveitada como sucata metálica para uso da siderúrgica. Para cada tonelada de aço produzida por meio de sucata, evita-se a emissão de 1,5 tonelada de CO2.

    O material transformado das plataformas será usado para a produção de aço na usina da Gerdau em Charqueadas, na região metropolitana da Capital. A P-32 pesa aproximadamente 44 mil toneladas, dos quais espera-se que rendam 40 mil toneladas de sucata ferrosa. Já a P-33 é ainda maior, pesando aproximadamente 45 mil toneladas.

    O processo de desmantelamento está previsto para ser realizado pelos próximos dois anos.

    O estaleiro da Ecovix vem fazendo reparos navais desde 2021, quando se voltou a utilizar a estrutura do dique seco com mais frequência. Diretor operacional da empresa, Ricardo Ávila diz que o desmantelamento é um novo negócio para a companhia, que está em recuperação judicial, mas que a atividade é vista como “algo acessório”.

    — O estaleiro é muito grande e o desmonte é pequeno frente às possibilidades do espaço. Claro que é uma atividade nova e temos um parceiro forte, mas continua sendo uma atividade acessória. Seguimos buscando a construção naval, que é o nosso grande objetivo — diz Ávila, acrescentando que o espaço tem plena capacidade para a construção de plataformas novas.

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