O que esperar de 2016? Os panoramas político, legal, econômico, social, tecnológico e ambiental para o próximo ano foram apresentados por especialistas no evento 2016: Cenários, Tendências e Desafios. O encontro foi promovido na quarta-feira (14) pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel), com o apoio da Aliança Pelotas.
Apesar de os prognósticos inspirarem alerta para o próximo ano, todos os painelistas falaram sobre oportunidades em momentos de crise e o poder da união – de áreas, de pessoas e instituições – para a construção coletiva que responda da melhor maneira aos anseios da sociedade e as condições postas para 2016.
A intenção do evento foi gerar conteúdo que fomente discussões e análises e subsidie tomadas de decisão e avaliações de planejamentos estratégicos – da própria Universidade e do empresariado da região.
Ao abrir o evento, o reitor José Carlos Bachettini Júnior mencionou que a atividade, antes de característica interna, amplia os debates e poderá ser realizada pela comunidade pelotense anualmente. Segundo ele, diante de um panorama de incertezas e volatilidades dos últimos anos, é necessário saber como agir. Para Bachettini, não se pode ter atitudes passivas ou reativas: é preciso ter ação antecipatória. “Temos que antever mudanças e preparar respostas”, disse.
Logo em seguida, o supervisor de Disseminação do IBGE no estado, Ademir Koucher, trouxe dados mostrando o gradual envelhecimento da população no país e na região. No Rio Grande do Sul, apontou, o período entre 2010 e 2020 é aquele que terá a maior quantidade possível de população economicamente ativa – um período propício para produzir riquezas.
Cenários Político e Legal
O primeiro painel, que contemplou os panoramas político e legal, foi conduzido pelo presidente da Associação dos Municípios da Zona Sul (Azonasul) e prefeito de Pelotas, Eduardo Leite e pelo advogado especialista em educação, Dyogo Patriota. O mediador foi o presidente do Movimento Brasil Competitivo (MBC), Cláudio Gastal.
Na ocasião, ao passar a palavra aos painelistas, Gastal apontou que se vive, atualmente, cinco crises: econômica, política, ética, jurídica e de credibilidade. Patriota falou especialmente sobre o problema do Financiamento Estudantil (Fies) que ocorreu este ano, com ausência de repasse às instituições de ensino por parte do governo federal. Destacou o papel de liderança da UCPel no movimento nacional que culminou em decisão do TRF 4 sobre o assunto. Ao final, fez uma provocação sobre grandes corporações educacionais e as condições de controle por parte do MEC e proteção aos alunos.
Eduardo Leite falou sobre o contexto político atual, mencionando que a tomada de decisão de um governante está condicionada a uma rede. “Antes, a vida era lenta e o governo era rápido. Agora, a vida é rápida e o governo lento, porque está cheio de amarras”, disse. Ao mesmo tempo, mais mobilização da sociedade e capacidade de comunicação veloz exige respostas rápidas do poder público. Segundo ele, a boa política envolve “ampliar os limites do possível” e abre caminhos para uma gestão técnica com ousadia e eficiência. Como desafios, apontou responsabilidade – saber priorizar investimentos em áreas que façam a diferença na vida das pessoas -, coragem – porque alguns segmentos serão afetados -, inovação, diálogo e parceria. “O próximo ano vai ser tão ruim quanto este, ou mais. Tivemos 3% de recuo do PIB em 2015 e em 2016 a previsão é de 1%, o que será perda sobre perda”, apontou.
Cenários Econômico e Social
No segundo painel, sobre os cenários econômico e social, os palestrantes foram o professor da UCPel Ezequiel Megiato e a diretora do Instituto de Pesquisa e Opinião (IPO), Elis Radmann. A mediação esteve a cargo do jornalista e editor-chefe do Diário Popular, Pablo Rodrigues.
Segundo a socióloga, 77% da população gaúcha está preocupada com a inflação e 68% com o desemprego. 90% da população diz que o supermercado e a farmácia estão mais caros do que há alguns meses. A população menor de 40 anos, por ter crescido em águas calmas, não sabe lidar com a inflação e a recessão. “Assim, não teve reação de corte e está mais endividada do que o normal”, disse.
De acordo com Elis, houve uma queda brusca de confiança nas instituições. “Estamos falando de uma população altamente descrente, cética, conectada e há tanta informação disponível que poderíamos dizer que elas quase não sabem de nada. Há um distanciamento da população com seus representantes. E, ao mesmo tempo, as pessoas não têm interesse em participar do processo”, observou. Segundo ela, entre os mais jovens ainda é mais evidente a leitura individual de mundo, e não coletiva. “A maior parte da juventude se isenta, coloca a culpa nas instituições e nos políticos e não se vê como agente transformador”, alertou.
Com o questionamento sobre como agir frente a esses cenários, a socióloga foi enfática: é preciso se reinventar e escrever novas cartilhas. Afinal, a população não confia no que está posto. “Essa crise é de sentimento de comunidade. Os elos entre as pessoas e a sociedade estão frágeis a ponto de se romper. Temos que ir mais longe, para a escola, a igreja, a família. Esse movimento pode ser positivo, porque vai mexer com aqueles que estavam na individualidade”, projetou.
O economista Ezequiel Megiato pontuou que a crise não é um fato internacional. “O problema é doméstico. Não é provocado pelo setor externo”, disse, falando que a carga tributária brasileira corresponde a cerca de 40% do PIB. Segundo ele, o esforço fiscal não deverá prosseguir no ano que vem. A confiança de empresários e consumidores vem se deteriorando e, assim, menos consumo representa menos produção. “Com maior incerteza, há redução dos preços dos ativos no Brasil, inclusive a taxa de câmbio, e eleva-se a projeção de inflação. Nesse cenário, a perspectiva de crescimento é menor e a de desemprego, maior”, observou. De acordo com ele, em 2016 o dólar deverá variar entre R$ 3,75 e R$ 4,90. Os juros devem se manter altos no próximo ano.
Cenários Ambiental e Tecnológico
Encerrando a programação, o pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Dario Azevedo e o professor da UCPel José Antônio Weykamp da Cruz falaram sobre os cenários tecnológico e ambiental, com a mediação do secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Pelotas, Fernando Estima.
O professor da UCPel destacou que a ecologia não é um tema novo nas discussões sobre o presente e o futuro. No entanto, há um distanciamento entre os estudos e discursos e a prática. “O discurso ambiental tem uma carga de banalização tão grande que chega a ser um entrave para a consciência”, alertou. Entre as tendências globais apontadas por Cruz estão o aumento nos eventos extremos, rearranjos epidemiológicos – doenças novas ou antigas que reaparecem -, conflitos por recursos, convenções internacionais e, também, celeiro de oportunidades. Numa escala mais regional, ele lista redefinição das fronteiras agrícolas, redução de estoques pesqueiros, aumento na suscetibilidade aos extremos meteorológicos, aumento na demanda por agilidade e responsabilidade na análise de novos empreendimentos e consolidação do protagonismo na geração de energia eólica. Dentre os desafios, fortalecimento de articulações regionais, gestão de resíduos sólidos e priorização de ações transformadoras.
Ao abordar o panorama tecnológico, Dario Azevedo falou sobre a necessidade da união de diferentes áreas para a resolução das problemáticas atuais. As mudanças, disse, são rápidas e disruptivas. Os hiperlinks alteraram a estrutura de pensamento dos jovens – causam sua desfragmentação. Ao mesmo tempo, a sociedade vive sob a cultura do patriarcalismo – e, por isso, espera que as soluções venham por si só. Pelo medo de errar, não assume riscos. O professor apontou, também, que a atual economia do estado tem processo com pouco uso de tecnologia e inovação e produtos com baixo valor agregado. Segundo ele, uma nova proposta deveria contemplar uma mudança de perfil da economia e do modelo de desenvolvimento, baseado em Ciência, Tecnologia e Inovação, além de apostar em um crescimento não linear – mas em saltos -, a exemplo de países como Coréia do Sul e Finlândia. Entre os desafios, ele elencou a preparação para mudanças rápidas, resiliência, tolerância ao erro, empreendedorismo e internacionalização. “A universidade tem a função urgente de preparar líderes e estimular a ação”.
Disseminando conhecimento
O evento integrou as comemorações dos 55 anos da UCPel, como mais uma das ações de serviço à comunidade que fazem parte da identidade da Universidade.
O evento foi gravado na íntegra e o material dará origem a um e-book, que será posteriormente disponibilizado.
Foto: Wílson Lima – UCPEL