Vale a pena ler: O brasileiro que fez a América

    O empresário Jorge Paulo Lemann virou uma lenda no Brasil. Com as aquisições da Budweiser, do Burger King e da Heinz, ele começa a fazer história também nos Estados Unidos. “Não conheci até hoje um grupo que administra empresas tão capaz como o formado, nos últimos anos, por Jorge Paulo Lemann no Brasil”, disse o lendário investidor norte-americano, Warren Buffett, dono da quarta maior fortuna do mundo. Aos 73 anos, o apetite de Lemann por aquisições de grandes marcas parece não ter fim. Qual será sua próxima tacada?

    Por Ralphe MANZONI Jr., Revista Istoé Dinheiro.
     

    Logo após vender o banco Garantia para o Credit Suisse First Boston, em 1998, o empresário Jorge Paulo Lemann jantou, em Boston, com o lendário investidor americano Warren Buffett. Na ocasião, Buffett quis saber como Lemann se sentia em relação à venda de seu negócio, que havia literalmente quebrado em razão da crise asiática. “Estou bem, mas quero tentar ser mais Warren Buffett e menos Sandy Weill, Jon Corzine ou John Reed (chefões, respectivamente, do Travelers, Goldman Sachs e Citibank)”, respondeu o brasileiro. O oráculo de Omaha, como Buffett é conhecido, quis saber a razão. “É que você tem mais senso de humor, mais domínio sobre o tempo e é mais rico”, disse Lemann. 

     

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    O megainvestidor, então, tirou uma agenda cheia de páginas em branco do bolso e concluiu. “Veja como sou rico. Olhe quanto tempo tenho para fazer o que quero, quando quero.” Dessa conversa, Lemann, que já era dono da Lojas Americanas e da cervejaria Brahma, no Brasil, consolidou sua vocação de empreendedor. Por quase 30 anos, ele fora reconhecido como o mais influente e genial financista brasileiro. A partir de então, era a hora de aprofundar suas tacadas na economia real, especialmente na área de consumo. “Pensar pequeno e pensar grande dá o mesmo trabalho”, costuma dizer Lemann, no que se tornou em um de seus mantras mais conhecidos. 

    Em meados de fevereiro deste ano, 15 anos depois daquele jantar, Lemann, 73 anos, e Buffett, 82 anos, se juntaram para fazer seu primeiro negócio em comum: a compra da fabricante de condimentos americana Heinz, em uma transação de US$ 28 bilhões. Trata-se de uma aliança poderosa. Buffett é dono da quarta maior fortuna do mundo, avaliada em US$ 53,8 bilhões, de acordo com o ranking da Bloomberg. Lemann é o homem mais rico do Brasil, com US$ 19,9 bilhões, patrimônio que se multiplicou por quatro nos últimos seis anos, período em que começou a caçar ícones da economia americana. O primeiro símbolo arrematado por Lemann foi a Anheuser-Busch, dona da cerveja Budweiser, em um negócio de US$ 52 bilhões, que criou a AB InBev, maior cervejaria do mundo em 2008. 


    Na sequência, comprou a rede de fast-food Burger King, combalida por problemas financeiros. Pagou US$ 4 bilhões, em 2010. Hoje, a BK já vale mais de US$ 6 bilhões. Desta vez, foi a marca mais tradicional de ketchup dos Estados Unidos. “Não conheci até hoje um grupo que administra empresas tão capaz como o formado, nos últimos anos, por Jorge Paulo Lemann no Brasil”, disse Buffett, logo após o anúncio da compra, referindo-se ao 3G Capital, fundo formado por Lemann e seus parceiros inseparáveis, Marcel Telles e Beto Sicupira. “Ele tem sido incrível.” Mais do que incrível, Lemann está mais uma vez fazendo história. O empresário já era uma lenda no Brasil, em razão do Banco Garantia, da Lojas Americanas e da fusão da Brahma e Antarctica. 

    Agora, ele está se transformando em uma das figuras centrais do capitalismo americano. É verdade que, nos últimos anos, as empresas brasileiras avançaram sobre a terra de Tio Sam. O frigorífico Marfrig, por exemplo, comprou a Keystone Food, maior fornecedora de carnes do McDonald’s. A Gerdau é a maior produtora de aços longos dos EUA. A Braskem também conta com petroquímicas em solo americano. A Eco-Energy, terceira maior distribuidora de etanol de lá, pertence à Copersucar. Mas só Lemann, Telles e Sicupira são donos de marcas consideradas símbolos, que estão presentes na casa e na dieta de quase todo consumidor americano. O trio, é claro, enfrenta resistências por suas tacadas nos EUA. 


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