Há tempos se afirma que as dificuldades da nossa indústria são causadas por um real excessivamente forte. Com esse diagnóstico, o governo taxou investimentos estrangeiros e gastos em viagens, dificultou a entrada de produtos importados por meio de mais impostos e medidas regulatórias, e acumulou muitos bilhões de dólares em reservas internacionais. Sozinha, a última medida custará mais de R$ 50 bilhões só neste ano. Somadas a uma conjuntura internacional, que reduziu nossas exportações e levou multinacionais europeias e americanas a repatriarem capitais, tais ações impulsionaram a cotação do dólar de R$ 1,50 a pouco mais de R$ 2 nos últimos meses.
Problema resolvido, certo? Não, muito pelo contrário. Este ano, a produção da nossa indústria até agora foi 3,5% menor do que no mesmo período do ano passado. Os desafios para a indústria são muitos, começando pela concorrência com produtos chineses e passando pela contração dos mercados de consumo nos EUA e na Europa e, consequentemente, excesso de capacidade industrial instalada no mundo após a crise de 2008. Some-se a isso uma enorme mudança socioeconômica no País desde 1994 que se acelerou nos últimos anos.
Só entre 2005 e 2011, 47 milhões de brasileiros emergiram das classes D e E, passando a gastar uma parcela maior de sua renda com serviços – telefonia, educação, turismo, saúde – e menor com produtos industrializados.
Não deveria surpreender a ninguém que a indústria foi, sistematicamente, o setor com o pior desempenho da economia brasileira nos últimos anos. Desde 2004, o varejo e o atacado, impulsionados por uma forte expansão de renda e crédito, cresceram mais do que a indústria em todos os anos. Não apenas as vendas, mas também os preços do setor de serviços vêm crescendo mais do que na indústria. O agronegócio e toda a cadeia de matérias primas metálicas, minerais e de energia cresceram e tiveram ganhos de preços ainda maiores, alimentados pela fome chinesa. Por fim, impostos elevados e baixos investimentos em infraestrutura, devidos a altos gastos públicos e desvios de verbas, prejudicam particularmente a indústria.
A novidade que percebi nas lojas de Nova York é que os efeitos maléficos da carga tributária sobre a competitividade e o crescimento brasileiro atingem, cada vez mais, setores tradicionalmente protegidos, onde não havia competição internacional. Maior facilidade de transporte e avanços do comércio eletrônico permitem que produtos antes adquiridos na lojinha local sejam agora comprados em qualquer lugar do planeta.
Por que tudo aqui é tão caro? Impostos. No mundo emergente, apenas três países têm carga tributária mais alta do que o Brasil. Ao tornar produtos feitos ou vendidos no Brasil mais caros do que no resto do mundo, nossos impostos estimulam os consumidores brasileiros a comprar em outros países, debilitando não apenas a indústria, mas também os setores de comércio e serviços. Até quando?