ENTREVISTA AO JORNAL DO COMERCIO
Aperfeiçoar a gestão da unidade da CMPC Celulose Riograndense em Guaíba é uma das metas do novo presidente da companhia, Mauricio Harger, que assumiu em junho o comando da empresa no lugar de Walter Lídio Nunes. Uma das ferramentas que o executivo adotará para alcançar esse objetivo será o sistema Lean – que se difundiu a partir de práticas da Toyota, priorizando uma produção enxuta e de combate aos desperdícios. Formado em Engenharia Mecatrônica pela PUC Minas, o catarinense de 42 anos, entre outros cargos, já foi presidente da Mexichem Brasil, dona da marca Amanco.
Jornal do Comércio – A planta de Guaíba concluiu sua expansão de capacidade em 2015 (alcançando um potencial para 1,8 milhão de toneladas ao ano de celulose), o que ainda pode ser feito para melhorar a unidade?
Mauricio Harger – Esse será o primeiro ano que a planta vai atingir os volumes esperados do projeto, por diversas dificuldades enfrentadas no passado que já foram noticiadas (um dos problemas foi a inatividade de uma caldeira). Quando se chega à capacidade plena, várias oportunidades vão aparecendo.
JC – Que oportunidades, por exemplo?
Harger – Melhorias de performances quanto ao custo, de conhecimento para uma manutenção mais preventiva do que corretiva, o desgaste dos equipamentos é outro. É o que a gente tem trabalhado como prioridade no momento. Estamos tocando um projeto de gestão industrial, com metodologia Lean, com o objetivo de dar uniformidade ao nosso processo.
JC – Quando será introduzida a metodologia Lean na fábrica?
Harger – A gente está bem no início. Nas próximas semanas, começamos, de fato, a implementação, que tem muito a ver com treinamento, conscientização e incorporação da metodologia no dia a dia das pessoas, para que entendam os benefícios e comecem a se empoderar para tomar decisões mais na base da operação e sejam menos dependentes do chefe, digamos assim.
JC – Como está sendo a sua transição para o setor de celulose (Harger exerceu, por vários anos, cargos dentro da Mexichem, grupo de empresas químicas e petroquímicas)?
Harger – Estive todo o mês de maio em um treinamento de indução (que facilita a integração na empresa), algo que a CMPC possibilitou mantendo o meu antecessor, o Walter Lídio Nunes, durante esse período. Me dediquei a conhecer toda a história da empresa, as unidades e a cultura da CMPC, fiquei metade do tempo no Chile (sede do grupo) e a outra metade em Guaíba.
JC – Qual é a sua impressão sobre o mercado de celulose, no qual o senhor está inserido atualmente?
Harger – É apaixonante. Você fica muito impressionado quando começa a olhar a sequência desse tema que se inicia com os viveiros. A tecnologia envolvida com o plantio, na seleção das mudas, é algo bem interessante. É um segmento que vem crescendo de maneira importante, tomando espaço do plástico no setor de embalagens, pelo papel ser um produto mais sustentável.
JC – Que experiências anteriores o senhor acumulou na Mexichem e que poderá aproveitar no comando da CMPC Celulose Riograndense?
Harger – A primeira experiência vem de uma multinacional que estava presente em 40 países, e, estando em uma multinacional, a comunicação tem que ser muito efetiva. Os executivos têm reuniões bem objetivas e curtas. Uma das primeiras contribuições que posso dar está relacionada a uma experiência muito boa de lidar com diferentes culturas, de diferentes países. O que acaba sendo muito importante em uma subsidiária de uma multinacional, ter essa comunicação fluída e transparente. Também trabalhei muito com o tema inovação na minha empresa anterior.
JC – Quais são os aspectos da inovação?
Harger – Seja em produtos ou em processos, como contato com os clientes, fornecedores, colaboradores. É algo que tenho visto que há muitas oportunidades. Na transformação digital, posso colaborar também. Tive muita experiência nesse aspecto com questões como Indústria 4.0, do lado de vendas, recursos humanos. A meta é usar a tecnologia a favor do negócio.
JC – O que o senhor pensa quanto à questão da logística hidroviária para o transporte de celulose no Estado? É possível ampliar?
Harger – A gente já escoa toda a produção exportada por barcaças até Rio Grande (desse porto, a carga segue para os seus destinos finais). Também trazemos madeira (para Guaíba) da Metade Sul por barcaças e, aí, talvez tenha um potencial para aumentar um pouco. Mas já estamos usando muito bem a hidrovia.
JC – Qual é a sua avaliação do potencial do mercado de celulose?
Harger – O momento é bastante favorável para o exportador. O dólar mais elevado acaba deixando os nossos custos, boa parte em reais, bem competitivos. E a economia mundial vem crescendo, o que acaba gerando mais consumo. Este ano está sendo bom para o setor de celulose, e a perspectiva é do segmento acompanhar o crescimento da economia mundial ou um crescimento até um pouco acima. Existem muitos países que estão desenvolvendo ainda o uso de fraldas, lenços e papel higiênico, há nações que vêm melhorando suas rendas e aumentando a população.