Do GLOBO
RIO – Diante da crise do setor naval, a Petrobras deslocou a construção de ao menos nove plataformas — de um grupo de dez que haviam sido encomendadas a estaleiros envolvidos nas investigações da Operação Lava-Jato — para a Ásia, principalmente para a China e para a Tailândia.
Ontem, a estatal deu mais um sinal de sua aproximação com a Ásia. Em comunicado ao mercado, a Petrobras informou ter assinado Termo de Compromisso com o China Exim Bank (The Export-Import Bank of China), definindo as condições para um financiamento de US$ 1 bilhão. O empréstimo é uma antecipação de recursos que seriam tomados em 2017. Uma fonte próxima à estatal explicou que o dinheiro será usado para dar continuidade aos projetos previstos para o próximo ano. No fim de fevereiro, a Petrobras já havia obtido financiamento de US$ 10 bilhões com o Banco de Desenvolvimento da China.
CONDIÇÕES MAIS FAVORÁVEIS
Em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Petrobras informou que o crédito de US$ 1 bilhão está vinculado a contratos de fornecimento de equipamentos e serviços, já firmados pela estatal com fornecedores chineses. Segundo a fonte, tratam-se de equipamentos e serviços já contratados.
Depois que o Brasil e a Petrobras perderam o grau de investimento — espécie de selo de qualidade aos investidores —, a estatal encontra condições de financiamento menos favoráveis no exterior e, por isso, procura diversificar suas fontes de crédito. Segundo a fonte, as condições e os juros dos empréstimos junto a bancos de fomento — que têm como contrapartida a compra de equipamentos e serviços chineses ou a venda de petróleo — são mais atraentes.
Levantamento feito por um executivo do setor naval indica que, das quatro plataformas previstas em estaleiros locais para o sistema de cessão onerosa, em campos do pré-sal, somente a P-74 tem seu casco em construção no Estaleiro Inhaúma, no Rio. Os módulos deverão ser construídos no Estaleiro EBR, no Rio Grande do Sul. Os cascos e módulos de outras três unidades, P-75-P-76 e P-77, estão em obras na Ásia.
O mesmo acontece com seis plataformas chamadas de replicantes, por seguirem o padrão previsto anteriormente. Da P-66 à P-71, destinadas ao Campo de Lula, no pré-sal, a construção dos módulos ocorre na China e na Tailândia.
Alberto Machado Neto, coordenador de MBAs de Gestão de Petróleo e Gás da Fundação Getulio Vargas (FGV), destaca que a Petrobras precisa elevar a produção de petróleo e cumprir os contratos de concessão ou partilha assinados com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), que está em consulta pública para rever as exigências.
— Os compromissos de compras de equipamentos e serviços na China não devem ultrapassar os 40%, em média, de conteúdo no exterior. A Petrobras tem que ter cuidado para não deixar de comprar no país, pois ainda tem muitas empresas capacitadas — disse Machado.
ESTATAL: OBJETIVO É MITIGAR ATRASOS
A Petrobras por sua vez informou apenas que vem adotando medidas, junto com as empresas contratadas, para manter a continuidade de seus projetos previstos no Plano de Negócios e Gestão de 2015 a 2019. A estatal explicou que quando é necessário, avalia a necessidade de execução no exterior de parte dos serviços das obras de plataformas “com o objetivo de mitigar atrasos.” A Petrobras destacou que “a construção das unidades encomendadas, bem como a gestão, engenharia e suprimentos do escopo do contrato permanecem com as empresas contratadas no Brasil.”
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