CRISE NO SETOR DE ÓLEO E GÁS FORÇA BUSCA POR NOVOS MERCADOS

     

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    A ordem é redirecionar negócios nas empresas gaúchas que apostaram alto no boom da cadeia de óleo e gás e foram pegas no contrapé pela crise da Petrobras e a paralisia causada no setor pela Operação Lava-Jato. A euforia alimentada pelas inúmeras oportunidades prometidas pela exploração do pré-sal se transformou em decepção com serviços não pagos, calote por equipamentos produzidos e entregues e fábricas jogadas à ociosidade.

    Não bastasse o alto endividamento da estatal, que ainda antes da Lava-Jato dava sinais de que o entusiasmo poderia ser exagerado, a conjuntura ganhou o componente negativo extra da queda do preço do petróleo. Cotado acima de US$ 100 até o início do segundo semestre de 2014, é agora negociado na casa dos US$ 30.

    – Quem se prejudicou mais foram os pequenos, que investiram, tomaram risco e eram inexperientes no setor – avalia Marcus Coester, coordenador do Comitê de Competitividade de Petróleo, Gás e Energia da Fiergs.

    Entre as grandes empresas do Estado, uma das vítimas é a Metasa, de Marau, fabricante de estruturas metálicas. Animada com o polo naval, construiu uma unidade em Charqueadas, onde forneceria para a Iesa Óleo e Gás, que produziria módulos de plataformas para a Petrobras. Em crise, a Iesa fechou as portas.

    – Foi um baque muito grande – resume o diretor-superintendente da Metasa, Horacio Steinmann.

    Uma encomenda de estruturas de módulos para a plataforma P-74, montada pelo estaleiro EBR, em São José do Norte, ainda manteve a atividade na unidade, com 200 funcionários e 50% da capacidade instalada. Mas se aproxima do fim. Mesmo assim, Steinmann garante que a fábrica e os empregos serão mantidos. Em meio à recessão, a empresa se volta a setores como energia, infraestrutura, papel e celulose e shopping centers.

    – Formamos uma mão de obra muito boa e queremos mantê-la. Vamos aguentar esse baque. Temos que acreditar na indústria brasileira – diz Steinmann.

    Dependência do setor caiu pela metade

    O impacto também foi forte na fabricante de válvulas industriais Micromazza, de Vila Flores, na Serra. A empresa iniciou 2014 com 400 empregados. Chegou ao fim do ano com 280. Até 70% dos negócios eram relacionados ao setor de óleo e gás. Hoje, 35%. A companhia também se dedica a ganhar espaço em novos mercados, como no setor de papel e celulose. Enquanto isso, luta para receber pagamentos de encomendas entregues para obras como unidades de fertilizantes da Petrobras, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o estaleiro da Ecovix, em Rio Grande.

    – A Ecovix era o nosso maior pedido, material que entregamos e não recebemos. Querem pagar com deságio de 40%. Isso não dá – reclama o diretor comercial da Micromazza, Jackson Camana.

    As empresas de menor porte ligadas à RS Óleo & Gás, associação criada em 2006, também trilham outros caminhos. Frustradas com os negócios – algumas têm pagamentos atrasados há dois anos –, optaram por abrir novas frentes.

    – A sensação é de que a indústria naval de Rio Grande será totalmente desmobilizada. Para as nossas empresas, estamos tentando rastrear outro negócios, como a térmica que a Bolognesi vai construir também em Rio Grande, além de energia eólica e solar – conta o presidente da entidade, Luiz Carlos Vivian Corrêa.

    A crise tem ainda grande consequência no emprego. Segundo o presidente do Fórum dos Trabalhadores da Indústria Naval, Joaquim Pedro, apenas ano passado, foram fechadas 35 mil vagas no setor, incluindo fornecedores. Conforme o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), apenas em estaleiros foram eliminados 17,8 mil empregos em 2015.

    Veja como está a situação dos principais projetos do polo naval gaúcho

    Iesa Óleo e Gás – Fechou a unidade de Charqueadas em 2014, com a demissão de mil trabalhadores. O controlador, grupo Inepar, entrou em recuperação judicial.

    Ecovix – Controlado pela Engevix, investigada na Lava-Jato, tinha contrato para fazer oito cascos de plataformas para a Petrobras. Recém entregou dois e um outro foi redirecionado para ser produzido na China. Segundo o Sinaval, os cascos da P-72 e da P-73 teriam o mesmo destino. O estaleiro tinha ainda encomenda de três navios sonda, da Sete Brasil, também em crise. Especula-se que fique com apenas um. A japonesa Mitsubishi saiu da sociedade do estaleiro.

    QGI – Tem prevista a montagem das plataformas P-75 e P-77 em Rio Grande. Após um longo impasse com a Petrobras relacionado ao pedido de aditivo em função dos custos, o consórcio ameaçou romper o contrato. Chegou-se a um acordo, mas parte da encomenda será feita na China. O principal controlador da QGI é a Queiroz Galvão, envolvida na Operação Lava-Jato.

    EBR – Sociedade da brasileira Setal Óleo e Gás (SOG) e da japonesa Toyo, o estaleiro de São José do Norte tem futuro incerto. Por enquanto, está em andamento a montagem da plataforma P-74, mas depois não há encomendas à vista.

    Outras empresas envolvidas na crise

    Em recuperação judicial

    OAS, Galvão Engenharia, Grupo Schahin, Alumini, Adelco e Estaleiro Eisa

    Em dificuldades financeiras

    UTC – Conseguiu renegociar dívidas com bancos e tenta vender ativos.

    Sete Brasil – Criada para construir e afretar plataformas para a Petrobras, tem uma dívida de R$ 14 bilhões e ainda pode pedir recuperação judicial.

    Camargo Corrêa – Com uma dívida de R$ 24 bilhões, vendeu, no final do ano passado, por R$ 2,67 bilhões, a Alpargatas, dona da marca Havaianas. Ainda tenta se desfazer de outros negócios, como a cimenteira InterCement.

    Andrade Gutierrez – Tenta vender a fatia de 17% que tem na empresa de concessão de rodovias CCR.

    Odebrecht – Busca compradores para seus braços nas áreas de saneamento, de concessão de portos e aeroportos, rodovias e metrô e da sua fábrica de equipamentos militares, além de uma hidrelétrica que constrói no Peru. No final de 2015, se desfez, por R$ 170 milhões, de sua parte na ConectCar, empresa do segmento de pagamento eletrônicos de pedágio. O endividamento do grupo seria de R$ 88 bilhões.

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