Operação Lava-Jato da PF prende executivos da Engevix, UTC, Iesa, entre outras

    Deflagrada em 17 de março pela Polícia Federal (PF), a operação Lava Jato desmontou um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que, segundo as autoridades policiais, movimentou cerca de R$ 10 bilhões. De acordo com a PF, as investigações identificaram um grupo brasileiro especializado no mercado clandestino de câmbio. Todos os presos foram levados, entre sexta-feira e sábado, em um avião da Polícia Federal, para a Superintendência da PF de Curitiba.

    Entre os que tiveram prisão preventiva ou temporária decretada pela Justiça Federal, a pedido da PF, estão o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque – apontado por procuradores e policiais como o principal operador do PT nos desvios da estatal – e presidentes de cinco companhias: OAS, Camargo Corrêa, Iesa Óleo e Gás, UTC e Construtora Queiroz Galvão.

    Foram presos, entre outros, os presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, da UTC, Ricardo Pessoa, e da Queiroz Galvão, Ildefonso Collares Filho, além do vice da Engevix, Gerson Almada. Até o início da noite, a polícia tentava negociar a apresentação do vice-presidente da Mendes Júnior, Sérgio Cunha Mendes.

    O presidente da Engevix, Cristiano Kok, foi conduzido coercitivamente para depor na PF em São Paulo. Ele, no entanto, preferiu ficar em silêncio e foi liberado. A Justiça também decretou a prisão de um integrante do conselho de administração da Camargo Corrêa, João Auler, e do vice-presidente da empreiteira, Eduardo Leite. Os dois executivos eram contatos de Alberto Youssef dentro da empresa, segundo depoimento à Justiça do próprio doleiro. Newton Prado Júnior, diretor técnico da empresa Engevix, foi preso no aeroporto de Recife.

    As empreiteiras, junto com as outras envolvidas, têm contratos que somam R$ 59 bilhões com a Petrobras, considerando o período de 2003 a 2014. Segundo as investigações, parte desses contratos se destinava a “esquentar” o dinheiro que irrigava o caixa de políticos e campanhas eleitorais no país.

    A Ecovix opera os Estaleiros Rio Grande 1 e 2 (ERG1/ERG2), além do Estaleiro Rio Grande 3 em obras no polo naval de Rio Grande. A UTC compôs a Quip junto com a Camargo Corrêa e a Queiroz Galvão a partir de 2005, com a construção da plataforma de petróleo P-53, para a Petrobras. Depois disso a Quip trabalhou nas plataformas P-63, P-55 e P-58 na cidade. A UTC deixou a sociedade em Julho de 2013. Com a saída da Camargo Corrêa do consórcio, este passou a se chamar QGI Brasil. A Toyo Setal, cujo diretor Augusto Ribeiro de Mendonça Neto aceitou fazer acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), opera o Estaleiro EBR em São José do Norte.

    A Petrobras está no centro das investigações da operação, que apontou dirigentes da estatal envolvidos no pagamento de propina a políticos e executivos de empresas que firmaram contratos com a petroleira. Entre os delitos cometidos por supostos “clientes” do esquema de movimentação ilegal de dinheiro estão tráfico internacional de drogas, corrupção de agentes públicos, sonegação fiscal, evasão de divisas, extração, contrabando de pedras preciosas e desvios de recursos públicos.

    Um dos executivos que aceitaram fazer o acordo de delação premiada com os investigadores da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, confessou que havia um “clube” de empreiteiras para ganhar as licitações da Petrobras. Em depoimento à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal (MPF), Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, diretor da Toyo Setal, disse que pagou entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões em propina ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, um dos presos sexta-feira pela PF.

    No depoimento de delação, Mendonça Neto ressaltou que havia entendimento prévio entre Duque, então diretor de Serviços da Petrobras, de que os contratos que fossem resultantes do clube “deveriam ter contribuições àquele [o clube]” . O diretor também disse que negociou diretamente com Renato Duque e “acertou pagar a quantia de R$ 50 milhões e 60 milhões, o que foi feito entre 2008 a 2011”.

    Apreensão invade polos navais

    A prisão de figurões de grandes companhias de engenharia com operações no Rio Grande do Sul para atender a encomendas da Petrobras semeou apreensão de que o escândalo de corrupção respingue na indústria naval do Estado. O receio de empresários gaúchos do setor de óleo e gás é que o caso se reflita em atrasos de obras e projetos, retenção de pagamentos, ameaça à política de conteúdo nacional e até que signifique que a unidade da Iesa em Charqueadas possa ir à pique de vez.

    – Algumas obras meio que vão parar porque todo mundo vai tirar o pé, ficar espiado. A torneirinha vai dar uma fechada, porque estava aberta demais. Era uma orgia. Mas esse é um momento de correção. Até a poeira baixar, vai haver uma estagnação – diz um empresário que é fornecedor de grupos envolvidos na Operação Lava-Jato.

    Admitindo grande preocupação, outro empresário do Estado com certo trânsito na Petrobras e que presta serviços à companhias envolvidas no episódio de ontem revela que o clima já era de cautela na estatal:

    – Está todo mundo pisando em ovos na hora de assinar um cheque. Aditivos somente são pagos depois de ser comprovado que não há nenhum problema – conta.

    Com a Petrobras e as empreiteiras travadas, a expectativa é de que os demais elos do segmento também sintam a retração, com ameaça aos empregos. Como a Petrobras tem pressa para receber as plataformas prontas para aumentar a extração de petróleo, a tendência seria de deixar um pouco de lado a política de conteúdo nacional e enviar uma cota maior de encomendas para o Exterior.

    Fornecedores recebiam com atraso

    Dione de Oliveira, vice-presidente da RS Óleo & Gás, entidade que reúne empresas fornecedores do setor no Estado, também teme percalços nos negócios. Ele informa que, além da Iesa, outras grandes companhias que operam no polo de Rio Grande atrasaram pagamentos a fornecedores no início do ano. Agora, a tendência é de mais retração.

    – Com essas notícias, os empresários vão ficar ainda mais receosos e com o pé no freio – avalia Oliveira.

    Procurado, o secretário estadual de Desenvolvimento e Promoção do Investimento, Mauro Knijnik, preferiu não se manifestar sobre os possíveis reflexos da Operação Lava-Jato na indústria naval gaúcha.

    Em Rio Grande e São José do Norte, a percepção é que possam ocorrer atrasos em projetos e pagamentos, mas sem ameaça à continuidade dos negócios. Em São José do Norte, o estaleiro EBR, da Toyo Setal, já começou a montar alguns módulos da plataforma P-74 e o casco deve chegar à cidade no início de 2015. Quando estiver a pleno, a unidade deve gerar 3 mil empregos diretos.

    – Qualquer retrocesso nos preocuparia – diz o vice-prefeito Francisco Xavier (PSDB).

    Fonte: Caio Cigana – Jornal Zero Hora

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