Zero Hora: “Faltam 4,5 mil no polo naval”

    Reportagem do Jornal Zero Hora de hoje destaca a quantidade de vagas no polo naval de Rio Grande que não são preenchidas por falta de profissionais qualificados. A matéria traz informações novas, me surpreendeu positivamente os dados sobre a PROFAB Engenharia (empresa de Rio Grande descrita na matéria), que, segundo consta no texto a seguir, começou com seis funcionários, há sete anos, focado na indústria de fertilizantes e alimentos e hoje possui 98% dos negócios voltados ao polo naval, com 470 empregados e 200 vagas abertas.

    O empresário Jefferson Puccinelli deixou de fechar um contrato de R$ 30 milhões, no ano passado, porque não conseguiria reunir 800 profissionais para construir um sistema de tubulação para uma empresa do polo naval de Rio Grande. Mesmo com chance de triplicar o faturamento, Puccinelli teve de abrir mão do negócio, caso que ilustra como a falta de mão de obra qualificada afeta o segmento no Estado.

    Formar trabalhadores, mais precisamente 4,5 mil profissionais, é o desafio do setor naval para 2013. Qualificar esse grande grupo é uma urgência: ainda neste ano o Rio Grande do Sul precisará de 2 mil pessoas para concluir três plataformas no Sul do Estado, e o novo polo de Jacuí tem previsão de abrir 2,5 mil vagas. A estimativa nacional para o setor é de que 40 mil pessoas precisam ser treinadas em funções como soldador, chapeador, montador e encanador.

    Tema do congresso que ocorre em paralelo à Feira do Polo Naval, que se inicia amanhã, em Rio Grande, a carência de profissionais para a indústria naval é uma realidade nacional.

    A revitalização da área no Estado soma mais de sete anos, mas a qualificação dos trabalhadores não acompanhou o ritmo das obras. Para formar profissionais de nível técnico – cerca de 70% dos trabalhadores navais – não é necessário muito mais do que dois anos, em alguns casos bem menos. Ainda assim, as empresas precisam trazer profissionais de fora e arcar com os custos dessas contratações ou ainda formar os profissionais dentro da própria empresa.

    – Comecei com seis funcionários, há sete anos, focado na indústria de fertilizantes e alimentos. Agora, tenho 98% dos negócios voltados ao polo naval. São 470 empregados, mas estou formando novos profissionais. Tenho 200 vagas abertas – relata Puccinelli.

    Apesar da falta de trabalhadores e de ter perdido o contrato de R$ 30 milhões, Puccinelli ainda pretende investir R$ 5,2 milhões na empresa. Mas o engenheiro mecânico de 48 anos e especialista em gestão espera por mais nitidez no futuro do segmento antes de assumir esse risco:

    – Uma das questões que quero ter mais claro é se haverá ou não redução no volume de aquisições da Petrobras no mercado nacional com os contratos com a China.

    A Petrobras, em comunicado, confirmou a transferência de parte dsa operações de Rio Grande para a China, mas afirmou que isso não significa “descumprimento das regras ou dos percentuais de conteúdo local estabelecidas nos contratos”. Uma pequena desaceleração no setor seria até positiva, avalia Márcio Freitas, diretor da área industrial da empresa suíça SGS no Brasil. Para Freitas, seria uma solução temporária até que se equilibrasse a oferta e a demanda de trabalhadores.

    – A falta de profissionais não é exclusividade de Rio Grande. Deixamos de assumir uma obra em que precisaríamos de mais 140 empregados durante quatro meses, em Suape (PE). Se houver retração na atividade com as compras da Petrobras na China, não será de todo ruim. O setor precisa equacionar essa questão – pondera Freitas.

    A carência de mão de obra do setor naval no país tende a ser menor no Rio Grande do Sul, mas não deixa de ser preocupante, asseguram especialistas como Floriano Pires, doutor do programa de engenharia oceânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

    Segundo o especialista, a formação de trabalhadores para equilibrar projetos e recursos humanos não foi feita ao longo dos anos. No Rio Grande do Sul, onde há bom nível educacional, polo metalmecânico e indústria forte, o desfio deve ser menor.

    A prova da formação deficitária está em alguns números da atividade. Apenas 20% das captações feitas pelo setor de recursos humanos são via currículos enviados, escolas técnicas ou pelo Prominp – programa do governo federal voltado a formar mão de obra para o setor. O maior número de contratações vem de indicações dos próprios funcionários, amigos ou familiares, que são treinados pelas empresas, conforme estudo feito pelo Sindicato da Indústria Nacional da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval).

    Ivan de Pellegrini, presidente da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), afirma que já há um acordo de treinar 800 pessoas para trabalhar no novo polo de Jacuí, em empresas como Metasa e Iesa. Em Pelotas e Rio Grande, serão formados, pelo Prominp, mais 1,3 mil trabalhadores entre o primeiro e o segundo semestres do ano, somando 2,1 mil profissionais. Ou seja, ainda faltarão ao mercado gaúcho 2,4 mil trabalhadores capacitados para suprir as 4,5 mil vagas a serem abertas.

    Apesar de afirmar que o setor é uma das prioridades para o governo do Estado, Pellegrini admite que não há verba estadual para a formação de mão de obra específica para o setor:

    – O governo não tem caixa suficiente, mas temos articulado parcerias e buscado recursos federais via Prominp.

    Pellegrini avalia que parte da falta de profissionais se deve a falhas nos primeiros cursos do Prominp implantados no Estado, que eram pouco afinados com as necessidades da indústria. No caso de soldadores, não basta um curso técnico, avisa Aloíso da Nóbrega, diretor de promoção comercial e atração de investimento da AGDI:

    – É quase como artesão, tem de ter vocação. Em fase inicial, esse trabalhador ganha cerca de R$ 3 mil. E o salário de um especialista chega a R$ 15 mil.

    Fonte: Thiago Copetti – Jornal Zero Hora
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