Junta-se a este outros investimentos, na mesma região, ligados a indústria naval, em fase de análise ou licenciamento. É o caso da Metasa (originária de Marau – norte do Estado), empresa do ramo de estruturas metálicas, que há alguns anos tinha um projeto de uma unidade em Rio Grande e aparentemente adiou esta planta em função da construção de uma fábrica em Charqueadas. Outra empresa que está se instalando nesta região é a Intecnial, de Erechim.
Desde o início do polo naval de Rio Grande nota-se que relevante parte das empresas que atuam ali localizam-se nas regiões metropolitana de Porto Alegre e Serra Gaúcha. São empresas sólidas e com longa atuação que viram na indústria naval um interessante mercado, como Lamb (Canoas), Darcy Pacheco (Porto Alegre), Tramontina (Carlos Barbosa) e Metalthaga (Novo Hamburgo).
Outro detalhe interessante é que a Iesa, que agora investe na região próxima ao Rio Jacuí, e a UTC (investimento previsto na mesma área), faziam parte – em sociedade com a Queiroz Galvão e a Camargo Corrêa – da QUIP, que foi o “embrião” do chamado polo naval de Rio Grande.
A novidade é que, além das plantas que já existiam, novos fornecedores estão se instalando na região mais desenvolvida do Estado. Aloísio Félix da Nóbrega, vice-presidente da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI) declarou que “em Rio Grande, onde há calados de 14 a 17 metros, focamos investimentos para a construção de cascos para estaleiros. No Polo do Jacuí, que tem calados de 5 metros, o foco são empresas que produzem módulos, além dos fornecedores.”
Não é tão difícil entender o porquê. Próximo a Porto Alegre está a maior massa de trabalhadores do Estado, tanto em nível médio e técnico quanto de nível superior, além de muitos fornecedores da cadeia básica de suprimentos. Neste caso a tão proclamada malha hidroviária do RS acabou, de certa forma, atrapalhando a região de Pelotas/Rio Grande. “Ora, se os recursos (inclusive humanos) que eu necessito para produzir estão aqui (próximos a Porto Alegre), e posso levar por barcaças até o local em que eles serão utilizados, por que produzir lá no extremo sul do Estado?”, pode ter se questionado algum empresário do ramo.
A questão é: será que, com o polo naval do Jacuí, os novos “sistemistas” se instalarão em Charqueadas e adjacências em detrimento a Rio Grande/Pelotas? Mal comparando, é como se no complexo da GM em Gravataí estivesse localizada apenas a montadora de automóveis, e as mais de 20 empresas vizinhas que fornecem desde filtros de ar até painéis veiculares para a montadora estivessem localizadas há 300 km dali.
Marcelo Domingues, geógrafo e doutor em organização e gestão de território pela UFRJ, foi muito feliz quando disse, em entrevista ao Jornal Agora de Rio Grande, que “é necessário que não se deite em berço esplêndido com ufanismos em relação ao potencial do porto e do Pólo Naval do Rio Grande, uma vez que outras cidades estão se mobilizando permanentemente em busca de melhorar a sua competitividade e performance socioeconômica.”
A notícia boa é que a saída está perto de nós. O progresso da região passa essencialmente pelo estímulo ao empreendedorismo. Existem alguns bons exemplos de empresas locais que estão obtendo destaque com o polo naval. A Usimec, indústria de Pelotas, já conta com mais de 900 colaboradores e vem atuando forte junto a Petrobras, somando contratos de mais de 10 milhões de reais com a mesma. A Profab, de Rio Grande, especializada em obras industriais de grande porte, nasceu há pouco tempo mas já conta com cerca de 200 colaboradores e tem na indústria naval um dos seus filões de negócio. O mesmo se aplica a Puma, metalúrgica também de Rio Grande, que hoje conta com mais de 100 funcionários.
Acredito que o empreendedorismo deve ser visto como a principal saída para o desenvolvimento da Região Sul do Estado do Rio Grande do Sul. Noto que grande parte da população espera pela vinda de uma grande empresa, um vultoso investimento, como única “salvação” para a região. Observei essa expectativa com a chegada da Votorantim Celulose e Papel a região (falei sobre isso aqui), e agora com o chamado polo naval de Rio Grande. No entanto, a solução está muito mais perto do que se imagina, passa diretamente pelo estímulo a inovação e a criatividade, buscando criar uma cultura empreendedora, e não esperando que “caia do céu” um milagre econômico para a região.
Marcelo Nogueira é graduado em Engenharia pela Universidade Federal de Pelotas e acadêmico de Administração pela mesma Universidade. Participa do Blog Caminhos da Zona Sul. Para ler mais da seção “Opinião”, clique aqui.
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