SANEAMENTO BÁSICO É SAÚDE NA VEIA
Paulo Gastal Neto*
É absolutamente desnecessário lembrar que saneamento básico é uma forma primária de se investir em saúde pública. Como dizem os especialistas: “saneamento é saúde pública na veia”. Bairros de periferia com a possibilidade do tratamento dos esgotos criam um ambiente favorável à cidade, ela cresce em todos os sentidos. Os tratamentos de água e esgoto fazem parte de um conjunto de medidas que visam assegurar o bem-estar e a qualidade de vida às pessoas, incluindo acesso a alimentos saudáveis, infraestrutura urbana, assistência social e serviços de saúde. Isso é tão elementar quanto a terra é redonda.
A compreensão da relação entre água, resíduos e saúde existe há milênios e surgiu quando a humanidade mudou sua relação com o ambiente. Essa mudança promoveu uma transformação nas interações sociais, com o surgimento das primeiras comunidades humanas e o aumento expressivo da expectativa de vida. O ser humano aprendeu que os seus próprios resíduos eram vetores de mazelas.
Recentemente – aqui em Pelotas – a administração municipal, liderada pelo prefeito Fernando Marroni (que um dia deixará de ser prefeito e a cidade irá continuar) enviou projeto ao legislativo solicitando a autorização de acesso a financiamento no valor de R$ 125 milhões, junto à Caixa Econômica Federal, para concretizar as obras das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) Engenho e Simões Lopes tramita na Câmara de Vereadores. Os projetos foram aprovados no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.
As duas unidades de tratamento aproximarão Pelotas de cumprir a meta de ter 90% do esgoto coletado e tratado até dezembro de 2033, imposta pelo marco regulatório do saneamento. Os índices atuais são 85% para coleta e cerca de 40% para tratamento, número atingido no final de abril, com o início da operação na ETE Novo Mundo. A projeção é alcançar entre 80 e 85% do efluente tratado com a implantação das ETEs planejadas. Porém, o que a cidade assiste estupefata, é que a Câmara não consegue aprovar tal pedido, por culpa das sandices políticas de alguns edis que pautam suas condutas pelos embates nacionais e esquecem das necessidades da cidade.
O não reconhecer a importância dessa iniciativa é o mesmo que promover o atraso, a propagação de doenças em crianças, impedir melhorias elementares em residências com falta de banheiros, é ir contra a sua própria cidade e ao fim e ao cabo a sua própria saúde. E é justamente isso que alguns vereadores de Pelotas estão fazendo. Com o intuito da autopromoção política, parece isso, estão confundindo as pessoas para que a cidade não evolua neste sentido e que próprios possam, talvez, continuar com suas criticas pontuais a um governo que não é meu, deles ou de outrem, é da cidade. A ação, que assistimos perplexos, passa a ser mero interesse não comunitário. Perdem o foco e a legitimidade, penso.
Pelotas carece de investimentos próprios em decorrência de um orçamento limitado e estrangulado. Somente o aporte de emendas parlamentares e iniciativas como a apresentada em favor do saneamento, junto ao governo federal, permitirão a chegada de recursos volumosos para obras necessárias. Outras semelhantes deverão surgir no decorrer do mandato do atual prefeito e espera-se que a conduta não se perpetue. Se a Câmara não tiver a sensibilidade, ou pelo menos alguns vereadores não entenderem que a busca pelo coletivo deve passar ao lado das questões partidárias, não sairemos da figura ultrapassada do cachorro correndo atrás da cola.
Lamentável.
*Radialista e editor do site www.caminhosdazonasul.com.br