Eleito presidente estadual do PSDB neste sábado, o ex-prefeito de Pelotas, Eduardo Leite disse que o governo de José Ivo Sartori (PMDB) se encurralou em seu projeto de ajuste fiscal e argumentou que, para o Rio Grande do Sul voltar a se desenvolver, precisará qualificar infraestrutrura e educação. “Sartori definiu uma agenda que concordamos em parte, mas os futuros quatro anos precisarão ser diferentes. O atual governo se encurralou na pauta do ajuste fiscal e não conseguiu avançar em questões fundamentais para o desenvolvimento, como infraestrutura e educação”, apontou o dirigente tucano.
Leite, no entanto, garantiu que o partido sob seu comando continuará “contribuindo” com o governo de Sartori e não descartou aliança entre as duas siglas para 2018. Ele foi eleito em convenção ocorrida na Assembleia, por maioria de delegados, tendo apenas um voto em branco e dois nulos contra 236 votos em seu favor. Apesar de refutar a condição de pré-candidato ao Piratini, seu discurso aos militantes se dividiu entre agradecimentos, descrição de sua trajetória política e visão sobre gestão do Estado.
“Desde que estou na política, ouço dizerem que a população não sabe votar. Será? Ou são os políticos que não sabem apresentar os projetos que as pessoas desejam. A população está cansada de gente que só fala e não entrega resultados. Ela quer sentir que há um rumo, uma direção. Se entenderem que posso liderar este projeto, contem comigo”, declarou.
Leite também falou sobre abertura do processo de diálogo para alianças eleitorais. Mencionou afinidade com o PP e rebateu críticas de que seu partido não possui estrutura com amplitude regional capaz de sustentar uma campanha ao Piratini. “Temos estrutura, fôlego e quadros técnicos qualificados para uma administração”, sentenciou.
“NÃO TENHO QUALQUER LIGAÇÃO COM O MBL”
Em um período marcado por articulações, no qual pré-candidatos ao Executivo costumam “esconder o jogo” sobre preferências e possibilidades de alianças, o futuro presidente do PSDB, Eduardo Leite, informa, sem hesitar, que é muito possível uma aliança com o PP. “Nas últimas duas eleições estaduais estivemos juntos. Na eleição passada, no primeiro turno, apoiamos a candidatura da senadora Ana Amélia. No segundo, acabamos apoiando o Sartori, que eu respeito muito, porque era necessário fazer uma escolha entre duas opções.”
No campo dos movimentos sociais, o tucano afirmou que, diferentemente dos prefeitos João Doria (São Paulo) e Nelson Marchezan Júnior (Porto Alegre), não tem proximidade com o MBL (Movimento Brasil Livre). “Respeito como movimento, é legítimo, como é legítimo que busquem vínculos com candidaturas, mas não tenho qualquer ligação com o MBL e entendo que não deva haver associação dele com o partido”, disse. “Particularmente, discordo de várias pautas deles. O MBL acredita que quem não pensa como ele peca. E isso me incomoda. Não considero que quem pensa diferente de mim é necessariamente do mal. Uma coisa é ser liberal na economia. Outra, na política. O PSDB é muito mais liberal do que o MBL no campo político.”
PSDB PROTAGONISTA NAS ELEIÇÕES DE 2018
Eduardo Leite deixou claro ontem sobre o papel que pretende desempenhar nas eleições de 2018. No momento em que os partidos começam a articular pré-candidaturas ao Palácio Piratini, e ante tentativas recorrentes do PMDB de evitar que ele dispute o governo gaúcho, Leite disse estar à disposição para concorrer. “Hoje há uma fórmula do fracasso que precisa retroceder. Ainda estamos apoiando o atual governo para colaborar. Mas é legítimo que pensemos um novo projeto. Eu não tenho medo, pelo contrário, estou preparado. E o Estado precisa ter um sonho. Hoje não tem.”
Questionado sobre a vontade do PMDB gaúcho de vê-lo fora da disputa, deixando o caminho mais livre para uma tentativa de reeleição do governador José Ivo Sartori ou outro nome do partido, o tucano reagiu com bom humor. “Antes de qualquer coisa, me querem fora.” Ele admitiu que a pauta fiscal, principal bandeira da gestão do PMDB, é importante, mas ressalvou que o RS precisa de uma gestão mais proativa, com outras pautas, para as quais o governo atual se mostra “muito tímido”. Listou infraestrutura, educação e segurança, assinalou que o governo prometeu um plano de concessões para as rodovias que até hoje não ocorreu, e afirmou não ser possível o Estado esperar retomar a capacidade de investimento para efetivar ações em áreas estratégicas.
Segundo Leite, escolhida a nova executiva, ele convocará o diretório para tratar da possibilidade de o PSDB deixar o governo gaúcho. A favor de que os tucanos abandonem o governo Michel Temer, ele disse que o diretório gaúcho vai debater e definir sua posição. “Podemos ajudar com as pautas importantes para o país, mas sem participar com cargos. Esse é um governo que deve muitas explicações à sociedade. Mais do que isso, há provas que comprometem sua alta cúpula e, inclusive, o presidente.”