DO DIÁRIO POPULAR
Foto: Carlos Queiroz
O ambiente não poderia ser mais pertinente para lembrar alguém que amava a terra natal e era extremamente culto. Em meio aos livros e à paisagem bucólica da praça Coronel Pedro Osório, o ministro do Tribunal Superior do Trabalho Mozart Victor Russomano (1922-2010) ganhou homenagem póstuma, no início da noite de sexta-feira, com o lançamento de sua última obra O poeta anônimo, na 44ª Feira do Livro. A coletânea de crônicas chega ao público em meio a lembranças sobre o legado do jurista pelotense.
O poeta anônimo (editora Juruá), organizado pelo próprio Mozart Russomano, compila mais de 90 crônicas escritas por ele para a coluna semanal que mantinha no Diário Popular. Os textos datam de 2003 a 2006 e refazem relatos históricos vividos pelo também magistrado e professor. O escritor também opinava sobre temas contemporâneos políticos e sociais.
A obra seria lançada no aniversário do Diário Popular, mas o autor morreu em 17 de outubro de 2010, antes de concluir o projeto. Os originais ficaram com o jornalista Clayton Rocha, que junto com a família encaminhou, posteriormente, à editoração. O Diário Popular e a livraria Vanguarda são parceiros neste lançamento.
Contador de histórias
Com o livro em mãos amigos e familiares contaram histórias e lembraram de momentos que viveram ao lado do jurista. “Eu adorava ouvir ele falar. Quando ele contava sobre os lugares em que viveu, viajava junto com ele”, falou Martha Russomano, prima em segundo grau do escritor.
Primo e amigo do pai de Martha, o professor e advogado Clóvis Gotuzzo Russomano, o jurista costumava visitá-los sempre que voltava a Pelotas. Destes encontros de família, restaram a certeza de que Mozart Russomano tinha o dom da palavra. “Era muito claro no falar e escrever, para mim era fácil de entendê-lo”, disse Martha.
Representando a família e os filhos do escritor, Clóvis Gotuzzo Russomano foi convidado a autografar a obra e falar sobre o primo. “Era um grande jurista, magistrado, professor, amigo e primo”, disse, depois de comentar que era suspeito para se pronunciar a respeito do parente.
Na memória de Gotuzzo Russomano, que também atua na área trabalhista, ficou o primo afetuoso, mas também o jurista combativo e atento às demandas do trabalhador. “Sem dúvida foi um grande representante da cidade de Pelotas. Muitas vezes me vali das lições dele.”
De coração
O advogado não se recorda de o primo ter feito algum lançamento de uma de suas mais de 60 obras publicadas, mas certamente ele estaria feliz por estar lá. “Uma vez ele me contou que perguntaram para ele se tinha escrito seus livros em Pelotas. Ele respondeu que sim. Porque estava presente aqui de coração.” O amor pelo solo pelotense, segundo Gotuzzo Russomano, era compartilhado pela mulher do jurista, Gilda Maciel Corrêa Meyer Russomano, que nasceu no Rio de Janeiro.
Em seu discurso, a diretora do Diário Popular – parceiro no projeto de O poeta anônimo -, Virginia Fetter, disse que o lançamento póstumo trouxe a ela sentimentos de alegria e uma pontinha de tristeza pela ausência do amigo, que conheceu ainda muito jovem. “É um imenso prazer lembrar do homem com a grandeza de Russomano, que nos serviu e serve de exemplo”, disse.
“Não podemos ter a sabedoria rara e a memória invejável dele, mas podemos nos espelhar no doutor Mozart para buscar a profundidade da sua generosidade, profissional extremamente ético e impecável”, falou. A diretora lembrou que o lançamento póstumo é a realização de um grande sonho, uma última peça de um quebra-cabeça. Sobre a obra, Virginia desejou que ela sirva de estímulo às novas gerações.