CANDIOTA 2 DEVE INTERROMPER OPERAÇÕES NO PRÓXIMO MÊS

    COMPLEXO TERMELÉTRICO DE CANDIOTA. DIVULGAÇÃO CGTEE  /CGTEE/DIVULGAÇÃO/JC

    COMPLEXO TERMELÉTRICO DE CANDIOTA. DIVULGAÇÃO CGTEE
    /CGTEE/DIVULGAÇÃO/JC

    Jefferson Klein – JORNAL DO COMERCIO
    Depois da Engie Brasil Energia (antiga Tractebel) ter anunciado que desativará a termelétrica de Charqueadas em dezembro, outra usina a carvão deve seguir pelo mesmo caminho: Candiota 2 (complexo que fica localizado no município de mesmo nome). A planta, administrada pela Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), é dividida em duas partes: a fase A e a fase B, a primeira com potência de 126 MW e a segunda com 320 MW (somadas, as capacidades correspondem a cerca de 11% da demanda média de energia do Rio Grande do Sul). A estatal opera ainda com a Candiota 3, que tem 350 MW de potência instalada.
    A CGTEE ainda não se pronunciou publicamente sobre o assunto, mas o presidente da Companhia Riograndense de Mineração (CRM), Edivilson Brum, detalha que o atual contrato celebrado entre as duas empresas assegura, anualmente, o fornecimento de 800 mil toneladas de carvão da CRM para as fases A e B e mais 1,7 milhão de toneladas para a fase C. O dirigente revela que a proposta do novo acordo, recém apresentada pela CGTEE, prevê o encerramento do abastecimento das fases A e B e a redução para 1,2 milhão de toneladas para a fase C.
    Em correspondência encaminhada à CRM, a controlada da Eletrobras frisa que, a partir de janeiro de 2017, as fases A e B estarão totalmente descontratadas de venda de energia ao Sistema Interligado Nacional, razão pela qual não há mais causa contratual para a subsistência do acordo de aquisição de combustível para as unidades. O documento prossegue indicando que existem outros fatores externos que também impedem a CGTEE de manter a aquisição de quantidade mínima de carvão prevista para Candiota 2.
    Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado entre a estatal e o Ibama, determinou a interrupção das unidades geradoras da fase A até a data limite de 31 de dezembro de 2017 e o desligamento da Fase B até o fim do próximo mês, se não ocorrer implantação do sistema completo de abatimento de material particulado e dióxido de enxofre para as unidades da fase B. Segundo o comunicado, “não será implantado o referido sistema, devendo ser desligada a Fase B até 31 de dezembro de 2016”. Além disso, a CGTEE admite que, após análise de um processo que tramitou pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o órgão regulador concluiu pela perda das condições técnicas e operacionais da fase A, fato que torna o empreendimento passível de iminente decretação da caducidade da concessão.
    Candiota 2, também conhecida como termelétrica Presidente Médici, teve a sua fase A inaugurada em 1974 e a B, em 1986. A questão envolvendo a usina foi debatida durante reunião convocada pela Secretaria e Estadual de Minas e Energia, realizada nessa quinta-feira, que contou com representantes do governo estadual, Operador Nacional do Sistema (ONS) Elétrico e Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Na ocasião, o gerente-executivo do ONS, Manoel Botelho, afirmou que a entidade (que controla a operação da geração e transmissão de energia elétrica no País) não tinha sido comunicada quanto à paralisação das fases A e B. O dirigente levantou a hipótese de que a proposta tenha sido sugerida como uma forma de pressão (quanto ao contrato a ser firmado ou quanto aos impedimentos levantados pelo Ibama).

    ONS projeta abastecimento no Estado com poucos problemas durante o verão

    Logo que iniciou a reunião nessa quinta-feira, organizada pela Secretaria de Minas e Energia, o diretor geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, antecipou que as notícias eram boas para o Rio Grande do Sul. De acordo com o dirigente, o abastecimento de energia não deve verificar maiores dificuldades (quanto ao atendimento de demanda) nos verões gaúchos de 2016/2017 e de 2017/2018.
    Se em relação ao fornecimento elétrico a situação está tranquila, o mesmo não se pode dizer ainda sobre a participação de novos projetos de geração de energia em leilões que serão promovidos mais adiante pelo governo federal. A situação deve-se a atual limitação quanto ao sistema de transmissão do Rio Grande do Sul para escoar energia para outras regiões, algo que já impossibilitou que empreendimentos eólicos disputassem um certame dessa natureza previsto para dezembro. “Mas, esse problema se resolve, pelo menos a médio prazo”, prevê.
    O desgargalamento do Estado acontecerá, fundamentalmente, quando uma série de obras da Eletrosul for desenvolvida. A estatal federal está negociando com a Shanghai Electric uma parceira para concretizar as iniciativas e o ONS estima que as estruturas (linhas e subestações de transmissão) sejam concluídas entre 2019 e 2020, dependendo, salienta Barata, da confirmação da entrada da companhia chinesa no processo.
    Outro ótimo presságio para o Rio Grande do Sul é a expectativa de que as obras de transmissão que deveriam ser feitas pela empresa MGF Energy Guaianazes Transmissora de Energia, mas que não saíram do papel, sejam novamente leiloadas. O conjunto dos projetos compreendia uma linha de transmissão de 230 kV de tensão, com 47 quilômetros de extensão, entre Garibaldi e Lajeado, outra linha de 230 kV, com 16,4 quilômetros, dentro de Lajeado, duas subestações de energia, uma no Vale do Taquari e outra na Serra, além de uma linha de 230 kV, com 49 quilômetros de extensão, unindo Candiota e Bagé.
    O consultor da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) Thiago Dourado adianta que a perspectiva é que o lote dessas obras esteja incluído no primeiro leilão de transmissão que ocorrerá em 2017, o que deve acontecer em março. Dourado comenta ainda que, estudos desenvolvidos pela EPE, apontam que haverá, futuramente, um grande reforço da rede elétrica na Região Metropolitana de Porto Alegre. Entre os trabalhos previstos, está a construção de uma nova subestação na Capital, semelhante as de Nova Santa Rita e Gravataí, que permitem a entrada de um enorme volume de energia para essa área. A previsão é que esses complexos sejam desenvolvidos no espaço de cinco anos. Também deverão ser aprimorados os sistemas elétricos das regiões de Cruz Alta e Serra. A EPE tem por finalidade prestar serviços de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético.

    CRM espera resposta alternativa para setor carbonífero

    Com a tendência de que o presidente Michel Temer vete um artigo da Medida Provisória (MP) 735, que prevê a criação de um programa de modernização para implantar novas termelétricas movidas a carvão no País, o presidente da CRM, Edivilson Brum, conta com que o governo federal encontre uma outra opção para o segmento. “O governo tem responsabilidade social nesse sentido e esperamos que o Ministério de Minas e Energia dê uma solução ao problema”, enfatiza.
    Brum diz que se o veto se confirmar, como tudo indica, o efeito será terrível para o setor carbonífero, particularmente para o Rio Grande do Sul, que possui em torno de 90% das reservas nacionais do mineral. O dirigente destaca que a cadeia movimenta cerca de R$ 12 bilhões ao ano e emprega direta e indiretamente 53 mil pessoas.
    O presidente da CRM também foi questionado sobre a possibilidade de privatização da empresa. Brum comenta que o governo estadual está fazendo uma análise de todas as suas fundações e estatais e não há nada a informar oficialmente ainda. “Agora, estamos aguardando algum pacote (de projetos) que possa, porventura, ir neste mês para a Assembleia Legislativa, para tomar conhecimento”, diz Brum. O executivo acrescenta que não foi feito levantamento para mensurar um valor para a companhia.

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