Eleita com 59,91% dos votos, no primeiro turno, Paula Mascarenhas (PSDB) será a próxima prefeita do município. Às 19h29min deste domingo (2), quando o resultado foi anunciado, a tucana escreveu o nome na história política pelotense por ser a primeira mulher a chegar ao cargo, além de desbancar os adversários logo na primeira disputa nas urnas. Colhendo frutos da aprovação do governo Eduardo Leite, ela terá desafios semelhantes ao peso da vitória: realizar a licitação do transporte coletivo na zona rural e executar a universalização do tratamento de esgoto.
Na apuração dos votos, ao lado de familiares, amigos e parceiros políticos, Paula não disfarçou a ansiedade a cada atualização no sistema do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). “Como demora, né?”, disse. Mesmo percebendo a impossibilidade do segundo colocado – Anselmo Rodrigues (PDT) – chegar ao segundo turno, esperou a autorização de Eduardo para comentar a votação. Não deu declarações à imprensa, mas agradeceu publicamente o envolvimento de apoiadores da campanha e transpareceu o alívio de chegar ao final da corrida eleitoral.
Concorrendo a cargo público pela segunda vez – a primeira foi ao lado de Eduardo, em 2012, como vice -, disse em coletiva de imprensa representar a continuidade da atual gestão municipal, através da renovação de lideranças. Aos 46 anos, professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e doutora em Letras, falou sobre o desejo de inspirar mais mulheres a participar da política. “Esse feito agora tem um significado muito importante. Eu não acho que fui eleita por ser mulher, fui eleita porque participei ativamente de um governo que as pessoas acreditam (…) Um significado inspirador para que as mulheres se sintam mais empoderadas, sintam que podem fazer o que quiserem. Fazer política se quiserem, que elas podem, tanto quanto os homens”, argumentou.
Construção da vitória
Lealdade e admiração pelo vice-prefeito Idemar Barz (PTB). Esta foi a forma de Paula citar a parceria com o vereador para a composição da chapa, além de afirmar que Barz será peça fundamental no diálogo com o Legislativo. Emocionado, disse concretizar mais um desejo na trajetória política, após duas décadas na Câmara de Vereadores. “Sabemos da responsabilidade que estamos assumindo. Quero ser um vice para ajudar a Paula, tanto nos momentos ruins quanto nas coisas boas, ser parceiro, leal”, declarou.
Na campanha, Paula e Idemar conseguiram deixar para trás nomes conhecidos da política municipal. O pedetista e ex-prefeito Anselmo e a deputada ex-vereadora Miriam eram dados como principais rivais e ficaram bem abaixo da votação da coligação A Mudança Não Pode Parar. Nem mesmo o apoio do PP – parceiro histórico do PSDB – barrou a frente de 11 partidos. Causou até racha interno da sigla, lembrado por Paula na coletiva de imprensa: “Agradecemos aos militantes do PP. Mostraram que estavam do lado correto, pelo menos do ponto de vista da população”.
Votos de confiança
Recebida com aplausos, fogos de artifício, chuva de papéis e muita descontração, Paula comemorou a vitória na avenida Bento Gonçalves. Entre os apoiadores, estava a servidora municipal Marina Peter, 34. Destoando da posição principal do Sindicatos dos Municipários de Pelotas (Simp), optou por dar um voto de confiança à atual vice-prefeita para continuar a gestão. “Melhorou muito a cidade, percebo essa mudança”, disse. Como contrapartida pelo voto, disse que irá cobrar mais valorização do funcionalismo público e ampliação das obras nos bairros. Eleitora de Idemar Barz, Mari Rosane Gonçalves, 42, disse que votou em Paula pela nova forma de administração executada nos últimos quatro anos. “Vejo além da minha rua, vejo o que a cidade ganhou e respeito quem está ao lado dela”, comentou.
Posicionamento de campanha
O planejamento de campanha propositivo e sem ataques pessoais aos adversários tradicionais não foi à toa. Ganhou destaque através do trabalho da socióloga e diretora do Instituto de Pesquisa e Opinião (IPO), Elis Radmann, responsável por assessorar a campanha de Paula. A equipe do IPO, de Pelotas, também trabalhou conceitos de comportamento do eleitorado para incorporar ao posicionamento de José Ivo Sartori (PMDB), em 2014.
No cenário das eleições municipais, o Instituto trabalhou em três segmentos: orientação de cientista político, diagnósticos sobre o eleitorado e pesquisas de intenções de voto. “Trabalhamos os atributos da Paula, desde o início, para mostrar a continuidade por meio da mudança”, analisou Elis. De acordo com a socióloga, a candidata conseguiu unir as características desejadas pelos eleitores (pulso firme aliado à imagem positiva), associada à fragilidade dos outros integrantes e aos altos índices de aprovação do atual governo. Assim, na visão da diretora do IPO, o desempenho da vitória no primeiro turno apenas precisou ser consolidado ao longo da campanha.
Os olhares das derrotas
Anselmo Rodrigues
Governaço resumiu a vitória tucana como “avassaladora”. “Eu, com a idade que tô (69 anos), reconheço a renovação que Pelotas quer e mostrou nas urnas. Quero parabenizar a Paula e reconhecer as qualidades dela, que conseguiu duas coisas inéditas na cidade. Desejo sucesso total, que tenha sorte, e cumprimento o mestre de tudo isso: o prefeito Eduardo”, declarou.
Fábio Tedesco
O candidato do PROS, Fábio Tedesco, considerou ter uma pontuação positiva. O político alegou que a criação recente do partido pode justificar a derrota. De um modo geral, no entanto, avalia positivamente o processo. “Por sermos um partido sozinho, sem coligações, a eleição foi boa”, comentou.
Marco Marchand
Para Marco Marchand (PEN), a disputa eleitoral foi desleal, pois não houve igualdade entre as campanhas políticas. O candidato argumentou que alguns partidos foram beneficiados, portanto o resultado nas urnas. “Plantamos a semente de um governo técnico e não partidário”, disse.
Flávio de Souza
Flávio de Souza (PTdoB) diz não acreditar que a votação tenha ocorrido de forma legal. Para ele, o pleito ocorreu de maneira “estranha” e injusta. “Meu partido e eu fomos injustiçados. Não acredito (no resultado), porque as vilas não gostam desse governo que maquia a realidade”, avaliou.
Jurandir Silva
O candidato do PSOL não se surpreendeu com o resultado, pela forma que as campanhas foram tratadas – ele teve direito a apenas 13 segundos no ar para apresentar projetos à população. “Temos um governo que nos últimos dois anos tratou de aparecer, com obras. E uma oposição com mais tempo (de propaganda gratuita), mas fraca; trágica. A nossa candidatura foi heroica, novamente. É um trunfo gigantesco pra nós”, afirmou, entusiasmado.
Ledinei Santana
Com a bandeira do direito a saneamento básico nos bairros, Ledinei Santana assegurou sair tranquilo da disputa eleitoral. O candidato do PMN declarou que o retorno positivo da comunidade que visitou durante a campanha lhe deu impulso para seguir na política. “Foi uma campanha para os bairros. Eu não era político quando entrei, mas saio político da eleição”, comentou.
Miriam Marroni
O pronunciamento sobre o resultado foi dado pelo presidente do diretório municipal do PT, Luciano Lima. Segundo ele, o percentual de votos corresponde a processo enfrentado pelo partido em nível nacional. “Foi agravado em Pelotas pelas denúncias que fizemos, principalmente pelo que consideramos como uso abusivo da máquina eleitoral da campanha”, disse.
Confira o resultado final:
– Paula Mascarenhas (PSDB): 59,86% – 112.358 votos
Coligação: PSDB/PMDB/PTB/PSD/PPS/PSB/SDD/PSC/PV/PRB/PR
– Anselmo Rodrigues (PDT): 20,23% – 37.967 votos
Coligação: PDT/PP/DEM/PTN/PHS/PSDC/REDE/PTC
– Jurandir Silva (PSOL) : 11,62% – 21.803 votos
Coligação: PSOL/PCB
– Miriam Marroni (PT) : 6,42% – 12.054 votos
Coligação: PT/PC do B
– Fábio Tedesco (PROS) : 1,09% – 2.050 votos
– Marco Marchand (PEN) : 0,61% – 1.151 votos
– Ledinei Santana (PMN) : 0,17% – 313 votos
– Flávio de Souza (PT do B) que está com a candidatura indeferida tem 485 votos.
– Brancos: 3,44% – 7.064 votos
– Nulos: 5,06% – 10.370