Por Jarbas Tomachewski e Rafaelle Ross
Assediada pela ampliação da UFPel, por cursos de Educação a Distância e a estruturação de outras instituições públicas de ensino na região, universidade passa por profunda reformulação. Os problemas que sitiam a Universidade Católica de Pelotas(UCPel) são inegáveis.
Nos últimos anos, a instituição convive com o processo de expansão das universidades e faculdades públicas e privadas. Assistiu a UFPel ampliar de seis para 23 mil o seu número de vagas, acompanhou a estruturação da Furg e da Unipampa, além da reformulação do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IF-Sul).
Entre as particulares também passou a ter concorrência no município. Os 12 polos, hoje 14, de educação a distância entraram com força na disputa por mercado. Um contexto cercado pela crise financeira e pelas representativas dívidas bancárias e tributárias que se acumulam em nome da UCPel e a obrigaram a repensar e planejar o futuro.
O cenário se mostra comprometedor, mas na voz do reitor José Carlos Bachettini Júnior encontra tom mais ameno. Com os olhos e a fala voltados para o quadro, que não à toa, está posicionado de frente para a sua mesa de trabalho, no prédio da Reitoria, onde consta a missão, a visão e os valores da universidade, o médico, ex-aluno da Católica e ex-diretor do Hospital São Francisco de Paula, recebeu a reportagem do Diário Popular na última quinta-feira (21) para uma conversa franca sobre este presente preocupante e, principalmente, o que planeja para a universidade.
Firme, confiante e sem economizar detalhes, Bachettini anuncia que até 2020 a comunidade conhecerá uma nova Católica: menor, com foco na formação de um novo perfil de profissional, fortalecida na Educação a Distância (EaD) e, talvez, em um novo endereço.
O contexto
“Em 2012 nós tínhamos a perspectiva de realmente criar a nova Universidade Católica de Pelotas, mantendo a sua tradição, mas com um processo de gestão adequado aos novos tempos. Até 2013 ficamos muito envolvidos com cenários, diagnósticos, estruturação. Já em 2014 e 2015 começamos a colocar em prática o que pensamos e planejamos. Mudamos radicalmente a forma de controlar a instituição. Em meio a isto a Católica começou a perder mercado sem estar preparada para isto. Ela perdeu com a qualidade da UFPel, que é indiscutível, com a qualidade do IF, que é indiscutível, e ela começa a perder por preço para outro grupo que se instalou na cidade. O grande equívoco foi não estar preparado para isso. A universidade, com uma estrutura pra nove mil alunos, começou a trabalhar com quatro ou cinco mil. E isto era um problema que precisava ser atacado.”
A reestruturação
“Determinamos que vamos ser uma universidade voltada para o desenvolvimento do território regional, que é Pelotas e os 23 municípios da Azonasul. A nossa ambição não é de ser uma instituição nacional, mas é de ser internacionalizada. A partir disto, em cima da nossa identidade cristã, da interação da aprendizagem, com base nos pilares do MEC, que são ensino, pesquisa e extensão, nós construímos um novo modelo. Este é o momento do ajuste e ajustes são dolorosos, como o desligamento de professores, encerramentos de alguns cursos, assim como o vestibular de inverno, que esta deve ser a sua última edição. Eu disse que a essa gestão cabe o ônus da mudança. A gente tem pago com a imagem pessoal e com a da instituição um ônus muito pesado, mas aceitamos essa tarefa. É preciso assumir riscos e nós estamos assumindo riscos todos os dias para manter as portas dessa universidade aberta.”
O campus II
“Lá era o mundo da educação e da comunicação. Uma estrutura enorme, cara e que viveu seu apogeu por um grande período. Começou a acontecer um declínio nos cursos instalados no local. E então eu passo a ter uma megaestrutura que está subutilizada. O que tínhamos lá cabia dentro do campus principal, então fizemos o movimento. É irresponsável para qualquer gestor ter estruturas duplicadas, obsoletas, que não estão sendo utilizadas. Então elas foram unificadas buscando qualificação. Nós ofertamos aquele campus como pagamento de uma grande dívida com um banco nacional. Ainda está em negociação e pode ser que seja negociado. Por enquanto seguem lá a TV e alguns laboratórios. Se o prédio não for negociado para pagamento de dívida, essas estruturas ficam lá, mas não posso ser um saudosista. A instituição não são prédios, o conhecimento não está nas paredes, o conhecimento são as pessoas e elas têm que acompanhar esse processo evolutivo.”
A saúde
“Se não bastasse o endividamento, mudança nas diretrizes curriculares e crise, nós somos donos de um hospital de ensino. No mesmo período do Fies, o governo Tarso e depois Sartori pararam de pagar incentivos e cancelaram serviços contratados. Circulam cerca de duas mil pessoas por dia. Tem 900 alunos lá, mais de 50 médicos residentes, cerca de 60 professores enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, da área da farmacologia, da biotecnologia. 60% do SUS da região é tratado lá, dentro e nas unidades básicas também. Ele vive completamente lotado. É o refúgio do Pronto Socorro, de quem não tem dinheiro, de quem tem, de quem não tem plano de saúde e daqueles que possuem. Trabalhar isso com qualidade e sem dinheiro é uma ginástica.”
O futuro
“Estamos executando exatamente o que planejamos. E planejamos mais. Nós vamos ser uma universidade pequena para média com no máximo 20 cursos – hoje são 32 – também com a pesquisa aplicada, com relações internacionais importantes, tendo a extensão como mote de ligação da instituição com a comunidade, com a EaD, que jamais será para cursos comerciais e a longa distância. O MEC não entende como queremos e conseguimos aprovar uma EaD com polo único na sede, mas é porque somos fiéis ao que planejamos. Vamos trabalhar na nossa região. O que desejamos é flexibilizar o sistema estipulado pelo ministério, onde 80% das aulas devem ser presenciais e 20% podem ser a distância. Essa universidade que a gente sonha é uma universidade que tenha na sua nuvem o conhecimento de acesso livre para seus alunos. E para isso, necessitamos também de uma casa nova. Vamos trocar este espaço por uma área nova, com maior conforto, estacionamento e segurança. Há dois pontos já sendo especulados. O território está ficando marcado, esta zona é da UFPel e a Católica tem que procurar seu espaço. Muitos vão falar em tradição, mas não vamos abandonar a tradição. É apenas do velho que precisamos desconectar, porque é nisso onde acabamos tropeçando.“
O público da UCPel
– São 4.024 alunos
– Dois mil são pagantes
– O restante são bolsista Prouni ou de outros programas
Talvez você não saiba, mas, além do serviço ofertado pelo Hospital São Francisco de Paula, nas Unidades Básicas de Saúde e também no Caps Escola, há:
– Serviço de assistência judiciaria gratuita: cinco mil atendimentos por ano
– Tribunal de conciliação: a primeira Universidade gaúcha a oferecer o serviço
– Testagem de resistência arquitetônica: Os laboratórios da UCPel atendem praticamente todas as obras realizadas na cidade. Foram 15 mil atendimentos no ano passado